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Um desviado abençoado

A boca fala do que está cheio o coração, e o meu coração está cheio de alegria, alegria esta que quero compartilhar com todos. Não me canso de falar da mudança que Deus tem feito em minha vida nestes últimos três anos, e acredito que seja bom para todos que venham a ter conhecimento destas coisas. Por isso, tenho escrito sobre isso muitas vezes e o faço com entusiasmo, convicção e esperança de que muitos tenham seus olhos abertos como abertos foram os meus. Sinto-me no dever de alertar a todos que eu possa alcançar que tenham cuidado com os maus obreiros que usam a Bíblia para enganar.

Eles são como cães perigosos que exigem obediência a mandamentos de homens como se fossem mandamentos de Deus. Esses religiosos entram sorrateiramente na vida de pessoas sobrecarregadas de pecados, facilmente levadas por paixões e sentimentos, que aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade. Esses maus obreiros resistem à verdade, têm a mente corrompida, e são réprobos quanto à fé.

Como um desviado abençoado, eu adoro a Deus por meio do Espírito Santo, me satisfaço com Cristo Jesus, não confio em nenhum sistema religioso, confissão doutrinária, ritos, métodos, cerimônias, campanhas, ou estatuto de qualquer igreja, porque sei que nada posso fazer para me reconciliar com Deus e ser perdoado por ele, e não preciso fazer nada, porque em Jesus eu sou completo.

Vivi por mais de trinta anos no meio evangélico e sei muito bem o que estou falando quando comento sobre igrejas evangélicas. Existem pastores sérios e igrejas idôneas, mas isso é como uma gota no oceano diante do que se tornou o Cristianismo. Quando falo de pastores e igrejas confiáveis, não estou pensando em igrejas específicas com endereços fixos; estou pensando em homens e mulheres de Deus espalhados por vários lugares dentro dessas igrejas. Mas mesmo esses estão privados da plena liberdade que há em Cristo Jesus devido o sistema religioso em que estão metidos. Lembro-me de um pastor que viu o estatuto que elaborei para minha igreja, que disse: “Ah! Como eu gostaria de ter um estatuto desses, mas não posso”. Só para ilustrar o que é pertencer a uma instituição religiosa chamada “igreja evangélica”. A mistura do evangelho com o sistema religioso produzido pelos homens e a sistematização da fé, é a tragédia desse povo muitas vezes bem intencionado, mas metido em muitas astúcias.

Bem que eu poderia ter continuado no meio evangélico. Se alguém pensa que pode confiar na idoneidade da sua igreja e denominação, eu ainda mais: converti-me a Jesus e fui batizado nas águas com dezesseis anos, pertenci a uma denominação histórica centenária, fui membro de uma igreja amorosa e fervorosa na fé, pai pastor (não era o pastor da igreja que eu frequentava); destaquei-me na igreja desde o início como líder de jovens, professor da escola bíblica dominical, pregador nos cultos principais da igreja (tudo isso no primeiro ano de vida cristã); quanto ao zelo, trabalhei muito mais que todos naqueles dias, pregando nos cultos, nas vilas, presídios e praças; três anos depois de convertido estava internado em um seminário estudando teologia. Fui o melhor aluno de homilética no seminário, orador da minha turma de formandos. Comecei a pastorear com vinte e três anos e a primeira igreja foi numa fazenda. Deixei uma boa estrutura para morar num cubículo para iniciar um trabalho missionário; depois pastoreei uma igreja histórica numa cidade do interior de Goiás; de lá mudei para Cuiabá onde pastoreei uma igreja por vinte e um anos. Dediquei-me ao crescimento espiritual e numérico daquela igreja e saí de lá com o templo cheio de pessoas.

Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Jesus condenava a hipocrisia dos religiosos de seus dias, a ausência de vida entre eles, que limitavam a fé a ritos e cerimônias. Jesus dizia que o culto deles era vão porque ensinavam doutrinas que eram preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, preferiam a tradição dos homens. O apóstolo Paulo também corrigiu as igrejas que se sujeitavam às ordenanças legalistas, segundo os preceitos e doutrinas dos homens. Tais coisas têm aparência de sabedoria e piedade; todavia, não têm valor algum contra os desejos pecaminosos. Foram essas coisas que me fizeram romper com a igreja evangélica – as doutrinas humanas, a institucionalização da igreja, a sistematização da fé, os legalismos, as imposições humanas, a padronização da vida cristã.

À luz da igreja evangélica, eu sou um desviado: não sou membro de nenhuma igreja legalizada, não faço parte de nenhum quadro ministerial como pastor; não estou debaixo de nenhuma cobertura espiritual, não sou dizimista há três anos. Enfim, para muitos crentes, eu estou perdido. Porém, nunca antes estive tão bem com Deus, comigo mesmo e com as pessoas. O evangelho me libertou da religiosidade evangélica – sou um desviado abençoado.

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