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Quando Deus frustra nossos projetos

Essa passagem bíblica falou muito comigo nesses dias, principalmente quando diz: “cessaram de edificar a cidade”. Durante décadas vivi construindo uma cidade religiosa que acreditava ser o projeto de Deus para a minha vida. Mas feliz foi o dia quando Deus confundiu minha língua com a dos líderes da igreja que pastoreava. Ele me dispersou daquele território denominacional e me fez ser um andarilho pela fé, um caminhante na estrada da vida, livre de projetos religiosos. Hoje sou um hebreu, um caminhante, um cruzador de fronteiras que não se limita a nenhuma fronteira, andando pela fé em Jesus.

“Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar. Sucedeu que, partindo eles do Oriente, deram com uma planície na terra de Sinar; e habitaram ali. E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa. Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra. Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam; e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro. Destarte, o SENHOR os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade. Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o SENHOR a linguagem de toda a terra e dali o SENHOR os dispersou por toda a superfície dela”
(Gn 11.1-9).

Esse texto mostra que nem toda unanimidade é saudável. Todos estavam de acordo com o projeto da construção de uma cidade que mantivesse todos habitando no mesmo lugar. Mas aquele era um plano egoísta e rebelde sem nenhuma aprovação da parte de Deus. Fico pensando, quanta tolice, quanta bobagem feita em nome de Deus e para Deus sem a bênção de Deus. Poucos continuam acreditando que Deus quer obediência, não sacrifício. É triste ver vidas dedicadas, dinheiro investido em construções que não levam a nada, mesmo que a intenção seja chegar aos céus.

Você já parou para pensar que pode estar construindo uma torre para tornar seu nome célebre? Que essa torre pode ser um ídolo na sua vida? Que esse ídolo pode ser sua esposa, seu marido, seu filho, seus pais, seu emprego, seus bens, seus sonhos? Você tem Jesus como chave hermenêutica do seu estilo de vida? Nem tudo que fazemos para Deus tem a aprovação de Deus. O apóstolo Paulo queria pregar o evangelho na Ásia, mas o Espírito Santo o impediu. Depois ele teve uma visão de um homem da Macedônia que lhe pedia, dizendo: “Passa à Macedônia e ajuda-nos”. Imediatamente ele e seus companheiros partiram para aquele destino, concluindo que Deus os havia chamado para lhes anunciar o evangelho (At 16). Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos.

Essa experiência de Paulo sempre me lembrar daquelas pessoas que acham que todo impedimento às suas boas intenções é coisa do diabo. Podemos estar atribuindo ao diabo o que é de Deus e dizendo ser de Deus o que é do diabo. Discernimento e bom senso é preciso para viver.

Quando Deus frustra nossos projetos é porque ele quer nos mostrar os seus caminhos. O dia seguinte a uma frustração pode ser um dia de alívio, de esperança, de recomeço. Imagino que muitos trabalhadores na torre de babel se entristeceram com a confusão das línguas e a dispersão do povo. Porém, imagino também que muitos se sentiram livres e desobrigados de tantas tarefas inúteis.

Saulo de Tarso antes de sua conversão a Cristo vivia construindo uma torre religiosa com todo empenho de sua vida. Ele se gloriava de suas origens e de seu histórico: foi circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que havia na lei, irrepreensível. Mas o que, para ela era lucro, ele considerou perda por causa de Cristo. De verdade, ele considerou tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, como seu Senhor; por amor do qual ele perdeu todas as coisas e as considerou como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé. Desde então seu desejo maior era conhecer a Cristo.

Todos nós corremos o risco de cair na armadilha da construção da torre, seja para tornar nosso nome célebre, seja para “servir a Deus”. Mas a grande bênção vem com a confusão de Deus, quando Jesus vira nossas mesas no templo e acordamos para o fato de que o justo vive pela fé, apegado ao nada, sem construção de monumentos, andando com Jesus e amando a todos.

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