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O Filho Pródigo

A parábola do filho pródigo é bem conhecida (Lc 15.11-32), e pela primeira vez me identifico com ela. Vejo no texto o que não via antes, mesmo tendo pregado seguidamente sobre o mesmo. A parábola revela vários aspectos de nossa vida, sobretudo, mostra o amor do Pai celeste pelo filho que se foi, mas que não deixou de ser, e também amor pelo filho que ficou, e nunca aprendeu a ser o que devia ser.

Eu sou o filho pródigo quando vejo que minha intimidade com o pai é tão pequena; sou o filho pródigo, quando tenho pressa em sair da casa do pai. Cansado dessa casa quero algo diferente. Pouco posso levar e pouco fica. Sair parece ser a única maneira de entrar de vez onde nunca entrei e de onde nunca deveria sair. A vida só é cristã, se tiver entrada e saída (Jo 10.9). Quero sair para entrar.

Sou o filho pródigo, quando a sensação de ir para longe me faz bem. Estou procurando um lar definitivo que ainda não encontrei, mesmo estando na casa do Pai. Depois de vinte anos no mesmo lugar, é impossível continuar como antes. Eu tenho medos, preciso ser amado e valorizado. Quero ir para longe da casa do pai em busca disso. Sou um solitário na casa do Pai, pois tenho pouco em comum com os demais. Preciso olhar de longe o que não vejo de perto? E quando voltar de longe, o que verei? O que quero, ou o que é? Verei.

Eu sou o filho pródigo quando caiu em si em meio aos porcos e reconheceu que era filho. Mas ao mesmo tempo me vejo querendo voltar para casa como servo para compensar com serviço minha rebeldia. Sou como o filho pródigo, que teme voltar para casa e encontrar festa e rejeição. Mas preciso me tornar como criança (Mt 18.3) e aceitar o amor do Pai que não quer explicações, quer a mim.

O que escrevi acima expressa meus sentimentos em relação ao pastorado de vinte anos. Estava em crise, não vocacional, mas relacional. Isso aconteceu há dois anos e vejo hoje com mais clareza o que estava por trás de tudo aquilo. Na verdade, parte do meu problema foi confundir a gaiola da religião com a casa do Pai que não é um sistema nem um templo (prédio), mas uma família de fé, o que nunca tive naquele período.

Graças a Deus que a casa do Pai não depende do desejo dos irmãos que nunca saem da casa, mas que nunca aprendem a ser filhos. A diferença é feita pelo amor do Pai que vai ao encontro do filho pródigo que vem ainda longe; pois, dependendo dos irmãos que ficaram o pródigo teria morrido longe de casa, ou seja, da instituição.

Muitas vezes fiquei triste com a atitude dos irmãos, pela recepção fria e pelo modo como me trataram. Mas, hoje louvo ao meu Pai porque me fez entender mais que nunca antes, que a casa do Pai não tem endereço; ela é o ambiente da vivência com o Pai e com todos aqueles que são, não apenas que estão na casa da religião.

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